Agosto amarelo.

Agosto amarelo.

 

     Poucas pessoas gostariam de ter vindo ao mundo no oitavo mês do ano. Porque eu não sei, dizem alguns que é em razão das lendas em torno de tal mês. Outros mais confirmam tal assertiva, bem…, ao menos para eles. Dizem que agosto é mês do lobisomem, eu, do meu canto pergunto a esses, se no século novo, se no milênio recém nascido ainda sobrevive tal chupador de pescoços, mesmo depois da vigência da lei de crimes hediondos, em que um beijo lascivo, contra o gosto da beijada, pode significar cadeia grossa.

     Não posso confirmar, mas se afirmam, é porque sabem.

     Já outros dizem que agosto é mês da mula-sem-cabeça, engraçado com estou mal informado, pensei que esses personagens só aparecessem na quaresma, isso é que dá não ler o diário “mal assombrado”, também não quiseram fazer desconto na assinatura trimestral.

     Mas largando para um canto essas crendices, que obviamente respeito, falaram-me que agosto é mal visto, como que assim meio discriminado pelos outros meses, primeiro porque fica impedindo a chegada da mais bela estação do ano, a mais charmosa, a mais perfumada, a mais romântica.

     Não obstante, não sei dizer, pois que desejo aclarar que sou apenas um mero narrador da cena que assisti entre a briga dos meses, em sendo assim, se chamado for à polícia, como cidadão, devo dizer a verdade, nada mais que a verdade.

     Nesse propósito, se intimado for, direi o seguinte do que testemunhei, vi e ouvi com estes ouvidos e olhos que espero que a terra não coma por já.

     Por primeiro, janeiro dizia-se o mais importante visto que sem ele não existiria o restante.

     Fevereiro, por sua banda, insinuava-se, todo em trejeito carioca, misturado com axé baiano, todo alegre, sentindo-se o rei.

     Março, coitado, o terceiro filho, meio esquecido, não sabia ele que teria mais nove irmãos, no entanto, exultou-se todo posto que em seu derradeiro dia comemora-se o aniversário da revolução da maior cidade do país.

     Abril, abril? Então é abril, há! Lembrou-se que em seus dias a vida do grande mártir da inconfidência mineira foi ceifada, ficou triste, não obstante, rememorou-se que também em seus dias, viu a Terra do Cruzeiro ser descoberta, alegrou-se.

     E maio, este então sente-se garboso, porquanto as noivas, belas, deslumbrantes, utopistas, vestidas a rigor, o preferem, motivo? Não sei dizer, no entanto acha ele – maio – que é para que os rebentos nasçam no mês do rei momo, como conseqüência – em seu pensar – serão serelepes, saltitantes e alegres. Apesar de que modernamente as concepções sucedem com maior brevidade, alegando os entendidos que a causa e a “alimentação” moderna.

     E o nosso amigo junho, modesto ele, muito modesto, sente-se o príncipe dos estudantes, eis que antecede ao mês das férias, como corolário, das viagens, dos passeios, naturalmente para aqueles que podem, para o restante dos mortais, ao menos, redução dos afazeres, sente-se como o tapete vermelho que amacia o andar da princesa a entrar no belo palácio, modesto, realmente não muito modesto.

     Julho, nem se fala, porta-se como o rei tupiniquim, ainda mais que seu antecessor já o colocou nas alturas.

     E agosto, a razão da nossa escrita, bem…, já falamos dele no início, é discriminado, deixado, abandonado por todos, nem os funcionários públicos gostam de gozar férias nele; as pessoas não gostam de mudar de casa, casar em agosto? Nem pensar, só se não houver outra data disponível e for “emergência”. É, ao que denota, quem criou agosto, o deixou órfão, agosto de deus.

     Setembro, oh! Belo, primoroso, florido, perfumado, romântico, etéreo, mês da primavera, elogios rasgado em verso e prosa o expandem aos quatro ventos, que o diz Beto Guedes, nem carece falar muito dele.

     Outubro, opa, é outubro, mês sério, festas das crianças, aniversário da Padroeira do Brasil. Enfim, é outubro, próximo a dezembro, opa, desculpem-me, Dezembro, mesmo quebrando as regras gramaticais deve ser escrito com inicial maiúscula.

     Perdoe-me quase deixo passar em branco que novembro é aniversário da república, que setembro é o aniversário da independência da “Terra de Santa Cruz”. Ufa, lembrei em tempo.

     Dezembro, este é belo por si mesmo, poderia sentir-se o rei do sol, da belezura, do colorido, da alegria, da paz, da serenidade, da amizade, da concórdia, da esperança, da fraternidade, poderia, visto que Cristo nele nasceu, mas como o Menino Deus é simples, completo, belo, esperançoso, dezembro não se permitira fugir às origens, ei-lo com sua simplicidade e riqueza.

     Portanto voltemos ao mês do ano tido por quase todos como um período negativo, de no mínimo, ventos ruivantes, ar seco, que adoece as crianças, agosto. Havemos todos, deveremos, por questão de justiça, desmistificar tal conceito negativo, eis que Agosto, assim mesmo, com inicial maiúscula – perdoe-me, novamente a tendência vernacular – é amarelo, roxo, branco com mais raridade, estando seu amarelo a colorir serenamente, em abundância, pelo menos em nossa região, os campos ainda secos pela ausência da nossa irmã chuva, preparando-os para a estação luz – primavera – agosto, com suas belas flores delicadas e amarelas, às vezes roxas que caem ao solo, regadas pela luz do amor que, inevitavelmente, se transformarão em riqueza para o solo.

     Pois, pois, agosto é amarelo.

Inverno de 2013.